Bitcoin: o catalisador de um universo digital descentralizado
Uma síntese sobre a tecnologia que conseguiu remover uma das maiores barreiras à descentralização da economia à comunicação
1. Introdução
Durante décadas, diversas tecnologias que prometiam uma moeda eletrônica ponto-a-ponto* e com certo grau de privacidade foram desenvolvidas, nenhuma delas de fato implementada. O Bitgold (1995) por exemplo, desenvolvido pelo Advogado e Criptógrafo Nick Szabo, utilizava mecanismos de criptografia* e descentralização*, mas não conseguia resolver o problema do gasto duplo*. Diversas outras ideias foram apresentadas à comunidade, sendo as mais importantes: HashCash (1997, Adam Back) e B-money (1998, Wei Dai). Todas elas utilizavam um conjunto de tecnologias já existentes, porém aprimoradas. O B-Money usou os conceitos de chave pública e privada* (Diffie e Hellman) e Proof-of-Work (Dwork e Naor) em seu código-base, porém nunca foi lançado devido a dificuldades técnicas no processo de comunicação entre os usuários.
*Definição no tópico 3.
2. Surgimento do Bitcoin
No dia 31 de outubro de 2008 um indivíduo ou grupo, utilizando o pseudônimo de Satoshi Nakamoto, enviou para uma lista de e-mails de pessoas interessadas em criptografia o escrito que seria considerado a descrição técnica do Bitcoin. Whitepaper pode ser definido como um documento que guia alguém a entender como funciona um produto ou sistema; o do Bitcoin se encontra replicado em diversos sites na internet e pode ser lido em língua portuguesa aqui.
Satoshi inicialmente foi recebido com ceticismo pela grande maioria dos criptógrafos: a verdade é que diversos projetos fantasiosos, impossíveis de serem praticados, eram frequentemente enviados nesses grupos. Um dos primeiros a acreditar no potencial da ideia foi Hal Finney, programador norte-americano que posteriormente recebeu a primeira transação de bitcoin da história. Apesar de existir uma documentação formal, o Bitcoin naquele momento ainda estava inacabado. Finney ajudou Nakamoto a remover algumas falhas do código até que ele estivesse completamente pronto para entrar em funcionamento. No dia 11 de janeiro de 2009 o primeiro nó Bitcoin entrou em operação.
2.1. Bitcoin x bitcoin
A rede* Bitcoin é essencialmente composta por: bitcoin (b minúsculo) e o Bitcoin, e essa é uma diferença substancial. O bitcoin (BTC ou XBT) se refere à moeda digital (que possui valor intrínseco) e é transacionada entre pessoas, já o Bitcoin é a infraestrutura tecnológica – também chamada de Blockchain – local onde todas as transações são validadas e registradas.
O objetivo inicial de Satoshi era criar uma moeda com propriedade escassa — livre de inflação — e que funcionasse sem o controle Estatal, originando o bitcoin. Ele não se deu conta que, o mecanismo criado para dar segurança a moeda — a blockchain — seria utilizada atualmente para criar novas soluções descentralizadas, como: jogos, artes digitais, metaverso, aplicações financeiras (crédito e empréstimo), poupanças alternativas (farming e staking), etc. A esse conjunto de recursos — sem a necessidade de um controle central — armazenado em uma Blockchain descentralizada, dá-se o nome de Web 3.0 ou Internet descentralizada.
*Nessa publicação, os termos “rede” e “blockchain” são intercambiáveis.
3. Whitepaper Bitcoin
No documento, Satoshi Nakamoto detalhou o modo de funcionamento da Blockchain Bitcoin, resumindo-o brevemente como:
Uma versão puramente peer-to-peer de dinheiro eletrônico permitiria que pagamentos on-line fossem enviados diretamente de uma parte para outra, sem passar por uma instituição financeira.
Uma breve explicação da diferença entre uma rede Cliente-Servidor e P2P (também conhecida como peer-to-peer, par-a-par ou ponto-a-ponto). No modelo Cliente-Servidor — ou hierárquico — existe um equipamento central, comumente chamado de Servidor, responsável por receber e enviar solicitações para os clientes (usuários). Pode-se citar como exemplo a Amazon, site de comercio eletrônico: os usuários realizam compras que são processadas pelos enormes servidores da empresa. Eles são responsáveis por coletar os dados dos indivíduos (pessoais e financeiros), registrar as compras, emitir a nota fiscal e processar o pagamento. Nesse modelo, fica claro a fragilidade na qual as pessoas estão expostas, pois suas informações estão sob propriedade de outra entidade.
Nessa relação há: cliente (usuário), vendedor (Amazon) e o processador da compra (servidor — também chamado de terceiro confiável). Além disso, uma pane no servidor faz com que as solicitações dos usuários não sejam respondidas, ou melhor, uma falha nos equipamentos implica na impossibilidade da realização das compras. Numa rede P2P o elemento central é inexistente, por isso é chamada de rede descentralizada. Qualquer dispositivo que queira transmitir informação fará diretamente para outro, sem necessidade de intermediário. É dessa forma que o Bitcoin funciona.
No Paper, fica claro a intenção da criação de uma moeda digital com as seguintes propriedades:
a) Descentralização — Qualquer pessoa que desejar pode validar e verificar transações, esse processo é conhecido como mineração; para isso é necessário um equipamento específico (chamado de minerador) e o software responsável por fazê-lo, conhecido como Bitcoin Core. Atualmente, ao verificar e validar um bloco de transações, um minerador recebe uma recompensa de 6,25 BTC pelo trabalho. Nesse caso, ao contrário das moedas fiduciárias, emitidas por instituições credenciadas para tal e controlada por algum Governo, a política monetária do bitcoin é muito bem definida no próprio código Bitcoin.
b) Privacidade — Visando privacidade, o criador utilizou métodos de criptografia, que é o ato de embaralhar uma informação a ser enviada na internet de modo que apenas o receptor consiga torná-la legível, evitando assim que, mesmo que um intruso consiga capturá-la não possa entendê-la. Ao elaborar o Bitcoin, Nakamoto utilizou os conceitos já existentes de chave pública e privada para que os usuários realizassem transferências de moedas de forma pseudo-anônima e segura.
— Funciona assim:
- Qualquer pessoa pode criar um par de chaves público/privada gratuitamente na internet. (Esse processo envolve cálculos matemáticos complexos.)
- A chave pública é derivada da chave privada.
- Mesmo que você perca a chave pública, ela pode ser recriada novamente, a partir da sua chave privada. O inverso não ocorre.
- A chave privada deve ser mantida em lugar seguro e não repassada a terceiros.
- Qualquer transferência de bitcoin deve ser realizada para a chave pública , também conhecida como Endereço bitcoin. Apenas ele conseguirá resgatar os fundos, utilizando para isso a própria chave privada.
No exemplo acima, 5 bitcoins foram enviados de Ana para o endereço público de Beto. Apenas o próprio Beto pode resgatá-las, usando sua chave privada.
c) Registro público de transações — Todas as transferências de bitcoins estão abertas para consultas públicas. Existe inclusive diversos sites, como o Blockchain Explorer, que permitem explorar os blocos minerados e visualizar as transações ocorridas neles, incluindo os valores transferidos entre usuários. É importante salientar que, pelo prezo à privacidade, nenhuma informação pessoal é transmitida e nem necessária, as transferências ocorrem entre os endereços de bitcoin, portanto, esses registros servem mais como forma de transparência das transações do que publicizar quem transaciona.
d) Gasto Duplo — A maior façanha de Satoshi foi revelar como resolver o problema conhecido na computação como Falha dos Generais Binzantinos (Byzantine Generals Faults) em uma rede descentralizada.
Exemplo: Quando Bob realiza uma transação de 1 bitcoin para Alice, todos os mineradores precisam estar cientes de que 1 bitcoin saiu do endereço de Bob e foi enviado para o de Alice. Acontece que esses mineiros estão espalhados por todo o planeta, logo, existe um atraso (delay) de sincronização para que eles fiquem cientes desse envio. Bob poderia, caso fosse um usuário malicioso, tentar gastar a mesma moeda pela segunda vez antes que todos eles ficassem cientes da primeira transação; chamamos isso de Gasto Duplo.
A rede Bitcoin resolve esse problema através de um algoritmo complexo chamado de Prova de Trabalho (Proof-of-Work), que possui embutido diversos outros mecanismos que impedem que uma mesma moeda seja gasta duplamente.
e) Escassez — O código do Bitcoin (Blockchain) foi projetado para ser imutável, mantendo fixa a política monetária da moeda. A única forma do bitcoin (moeda) ser gerado é através do processo de mineração. Nessa atividade, os mineradores são responsáveis por validar as transações e registrá-las na Blockchain. Por esse trabalho, eles recebem bitcoins como pagamento, que precisam ser vendidos para arcar com os custos da mineração (energia, manutenção dos equipamentos, funcionários, etc.). Essa recompensa é reduzida pela metade a cada 4 anos, em um processo chamado de halving, gerando a escassez do ativo. Vale salientar que o termo “mineiro” ou “minerador” se refere a um supercomputador responsável por esse processo e não uma pessoa em si.
Após solucionar a principal lacuna que restava para criar uma moeda descentralizada de forma autônoma e segura, Satoshi Nakamoto acabou criando uma tecnologia (Blockchain) que proporciona a descentralização não só de ativos financeiros, mas uma vasta gama de atividades que até então funcionavam apenas de forma centralizada.
4. O Blockchain Bitcoin
É interessante mencionar que, apesar de desenvolvê-lo, o termo “Blockchain” nunca foi mencionado no documento original, sendo cunhado posteriormente por desenvolvedores que assumiram o desenvolvimento do código após o sumiço de seu criador. No documento, ao explicar seu funcionamento, o mais próximo que ele fala é:
(…) “Como os blocos seguintes são encadeados” (…)
Foi supostamente desse trecho que fizeram a junção das palavras “bloco” (block) e “cadeia” (chain). Não há tradução em Língua Portuguesa para o termo cunhado.
Também é importante salientar que o Blockchain Bitcoin foi desenvolvido exclusivamente para dar suporte a moeda digital (bitcoin), isto é, em uma rede bitcoin é possível apenas armazenar, receber e enviar moedas. Isso aconteceu por que o inventor limitou ao máximo a possibilidade de programação em sua invenção com o intuito de se proteger de possíveis falhas. Na realidade, há impossibilidade de programar códigos dentro da blockchain por que o sistema não aceita linguagens de programação. Outra observação importante é que o Blockchain em si não é visível a quem envia e recebe as moedas: o código se encontra em funcionamento nos dispositivos mineradores, armazenando todas as transações, depois de validadas. O usuário comum, por outro lado, se preocupa apenas em possuir uma Carteira Bitcoin (no qual já vem embutida um par de chave público/privada), são elas que se comunicam com a Blockchain.
De uma forma mais objetiva, não se consegue construir aplicativos descentralizados nessa rede, tornando-a exclusiva para a transferência de moedas. Em seguida, outras blockchains foram criadas com esse objetivo.
4.2 Blockchains Alternativas
Com o Bitcoin em funcionamento, mas com o impedimento de desenvolver aplicações em seu código, novas blockchains surgiram como opção, se tornando mais completas e proporcionado a criação de programas descentralizados nas mais diversas áreas.
Uma dessas redes foi o Ethereum, cuja moeda nativa é o Éter ou ETH. Fundada em 2015 por um ex-colaborador Bitcoin, Vitalik Buterin, essa Blockchain permite a criação de programas ou aplicações, chamados de Contratos Inteligentes, que são códigos de programação auto-executáveis, isto é, não precisam de um intermediário para que uma ação seja exercida.
Tomemos como exemplo uma máquina de café em um shopping center: essa máquina é programada para receber uma nota de papel, verificar sua autenticidade e caso positivo, preparar o café e disponibilizá-lo ao comprador. Note que não foi preciso uma pessoa (que chamamos de terceiro ou intermediador) receber a quantia e misturar os ingredientes: tudo foi feito de forma automática através de códigos executados a partir de daquele aparelho. É de forma similar que funcionam os Contratos Inteligentes, exclusivamente em formato digital.
Vamos agora supor que Rafaela tenha 2 moedas de nome fictício Coin, cada uma no valor de US$ 3 USD e esteja interessada em trocá-las por outras moedas de nome Cash, que estão avaliadas em US$ 1 a unidade. Rafaela pode então realizar a permuta de 2 Coin por 6 Cash através de uma aplicação descentralizada (Dapp), como a Uniswap. Para isso, basta ela conectar sua carteira a esse serviço e realizar a troca, sem precisar de intermediários para que isso aconteça.
O Uniswap nada mais é do que um contrato inteligente pré-programado para realizar trocas de moedas digitais entre pessoas desconhecidas, sem a intervenção de terceiros. Ele funciona na blockchain Ethereum.
Diversas outras soluções foram e continuam sendo desenvolvidas de forma descentralizada, reduzindo a burocracia e eliminando custos dos intercessores. É útil frisar que hoje existe dezenas de blockchains, cada qual com foco em uma utilidade. Tem-se: EOS, Polkadot, Cardano, BSC, Solana, etc, todas elas com objetivos específicos: sanar alguma falha tecnológica cuja solução é ela mesma. Essas redes também possuem as moedas próprias e seu preço está estritamente ligado a alguns fatores, como: quantidade de usuários, equipe de desenvolvedores ativa, tamanho do ecossistema*, valor das taxas de transação, o quão descentralizada ela é em relação a outras redes, segurança, etc.
*Ecossistema se refere a variedade de aplicativos que funcionam em uma Blockchain.
4.3 A Influência do Bitcoin nas Altchains
O desenvolvimento das Blockchains alternativas – Altchains – só foi possível devido a resolução do problema de gasto duplo resolvido por Satoshi. De fato, o código-fonte da blockchain Bitcoin sempre foi aberto ao público, por isso, qualquer pessoa com conhecimento mediano em programação pode copiá-lo e produzir a sua. Esse é o motivo de tantas outras surgirem logo após a criação da ideia original. O mais importante é que o bitcoin, apesar de suas restrições, deu o pontapé inicial para o desenvolvimento de novas redes descentralizadas, focadas sobretudo na inovação, alta escalabilidade* e foco na segurança.
*Escalabidade diz respeito à capacidade de uma empresa ou produto crescer de acordo com o aumento da demanda.
5. Desaparecimento de Satoshi
Após o bem sucedido lançamento da rede no início de 2009, diversos outros profissionais começaram a participar ativamente do projeto, sendo Satoshi muito discreto em relação a sua vida pessoal e profissional. A última mensagem de Nakamoto antes de sumir completamente foi em abril de 2011, em um e-mail direcionado a Gavin Andresen, programador e ex-mantenedor das atualizações Bitcoin. Na ocasião, Andresen relatou a Satoshi que fora contratado por uma empresa de tecnologia para dar uma palestra sobre criptomoedas na CIA e queria ele ficasse ciente para evitar a hipótese de conspiração. Após esse episódio, ele nunca mais retornou. Especula-se que o motivo de seu sumiço teria sido o medo de ser preso pelos orgãos governamentais dos Estados Unidos que combatem crimes contra o sistema financeiro.
Existem diversas teorias a respeito de quem estaria por trás dessa identidade, inclusive diversas pessoas já se auto-intitularam o dito cujo, mas até o momento ninguém conseguiu provar. É estimado que Satoshi tenha minerado no início da década passada em torno de 1.100.000 (um milhão e cem mil bitcoins), porém até hoje nenhum único foi gasto, motivo pelo qual especulam sua morte ou a perda da chave privada que guardaria essas moedas. Na cotação atual de US$ 63.000,00 por unidade, Nakamoto estaria hoje na lista dos 15 mais ricos do mundo. É bem plausível entender contudo, principalmente na comunidade criptográfica, que ele estava bem mais preocupado no desenvolvimento de uma tecnologia que proporcionasse privacidade e liberdade do que no retorno financeiro.
6. O Legado Nakamoto
O Invento de Satoshi é comparado ao da Internet. Diversos artigos abordando a tecnologia criada por ele e até mesmo a respeito de sua pessoa foram publicados nos mais respeitados meios de comunicações, como: Washington Post, Le Mond, News Week, BBC, New York Times, Business Insider, WallStreet Journal, CNBC, entre outros. É de se esperar que a atenção a mídia ao bitcoin é proporcional ao seu valor unitário de mercado, que atrai olhares de pessoas que desejam obter uma rentabilidade exponencial devido ao hype das criptomoedas. É também factível que, de acordo com sua adoção, o preço da moeda tende a se estabilizar, diminuindo a volatilidade fortemente ligada a ela.
O Bitcoin foi originalmente desenvolvido para ser “um sistema de dinheiro eletrônico…”, suas limitações técnicas porém, criaram uma barreira para que ele fosse usado de fato como meio de pagamento. Como se trata de um recurso escasso (apenas 21 milhões de moedas existirão), ele é melhor definido como um ativo de reserva de valor. Sua criação se deu no ápice da crise global de 2008, desencadeada pelo subprime imobiliário e a bolha especulativa do mercado de aluguéis nos Estados Unidos, que levou à falência o centenário Lehman Brothers.
Em suas publicações, Satoshi deixava claro sua intenção, desenvolver uma ideia que deixasse as pessoas livres das amarras de instituições bancárias. Ele acreditava que os bancos, além de cobrar altas taxas e manter dados sigilosos dos clientes, também burocratizava os processos financeiros. Como premissa, ele alegava a grande exclusão social concebida por eles, argumentando que o número de desbancarizados girava em torno de 1,5 bilhão de pessoas em todo planeta.
O bitcoin resolve isso: um imigrante Sul-Africano que esteja à trabalho nos Estados Unidos, por exemplo, pode enviar uma remessa de valor em bitcoin para seus familiares no seu país natal sem precisar ter acesso a uma conta bancária, apenas criando uma carteira bitcoin gratuitamente, em uma transação com baixo custo operacional.
Sua crítica aos bancos e a moeda estatal eram ferrenhas, ao passo que no primeiro bloco* minerado da rede Bitcoin — também chamado de Bloco Gênese — Nakamoto gravou a manchete do Jornal The Times do dia 03 de janeiro de 2009.
*Bloco é o local em uma Blockchain onde diversas transações válidas são armazenadas.
Em tradução livre: “Chanceler procurando uma maneira de ajudar o segundo banco”. Sua opinião é que o Governo estava sendo leniente com essas organizações, que agiram de forma irresponsável na segunda metade da década passada, liberando crédito farto a uma classe de clientes que não teria condições de pagá-lo. Após o calote generalizado, esses bancos recorreram ao Estado em busca de liquidez contra uma provável insolvência, problema que eles mesmos causaram.
Nakamoto deu o pontapé inicial a uma tecnologia que continua sendo aprimorada como alternativa a grandes organizações financeiras mundiais.
7. Considerações Finais
Em seus primeiros dias, foi difícil mensurar o valor de um bitcoin, haja vista que não havia nada parecido com o que comparar. Durante todo o ano de 2009, o preço da moeda foi quase zero. Assim, ele foi valorado de acordo com o custo da energia para minerá-lo, dessa forma, o valor de um bitcoin podia ser calculado da seguinte maneira:
BTC = kwh(M) + L, onde o valor da moeda (BTC) é a soma da energia gasta em sua mineração (kwh(M)), mais o lucro do mineiro (L).
Inicialmente, as trocas ocorriam de forma direta, as pessoas depositavam na conta do vendedor o valor acordado em dólar e ele transferia os bitcoins para a carteira do comprador. Não demorou para que logo surgissem as corretoras de criptomoedas.
A partir de 2012, uma unidade já era cotada na casa dos dois dígitos, em torno de US$ 13,00. Desde então, seu preço passou por altos e baixos, enfrentando diversas tentativas de repreensão por parte de governos e entidades do sistema de capital. 2017 foi considerado o ano mainstream do ativo, que partiu de US$ 960,00 e chegou a ser negociado na casa dos US$ 20.000,00. Essa alta foi impulsionada fortemente pelo varejo — pessoas que descobriram através dos meios de comunicação essa nova classe de investimento e desejaram se aventurar em busca de bons retornos.
Já 2020 foi crucial para a transformá-lo em um instrumento respeitado, com a entrada em massa de investidores corporativos, com alguns destaques. Em agosto do mesmo ano, a MicroStrategy, — empresa de software sediada nos Estados Unidos — adquiriu aproximadamente 21.000 moedas.
Em novembro, a Square, intermediadora de pagamentos de propriedade de Jack Dorsey – dono do Twitter – anunciou a compra de US$ 50 milhões em bitcoin. No mesmo mês, o tradicional banco JPMorgan publicou um relatório sugerindo que os investidores estariam trocando o ouro pela moeda digital. A entrada dos institucionais continuou, com a seguradora MassMutual investindo US$ 100 milhões no mês de dezembro. No início de 2021 a Tesla, fabricante de carros elétricos do bilionário Elon Musk realizou a maior compra de bitcoin da história, totalizando US$ 1.5 bilhão. Ao longo de todo o ano, centenas de Empresas, Fundos de Investimentos, ETF’s e Family Offices diversificaram portfólio em cripto.
O mercado visualiza o bitcoin rompendo os 100 mil dólares ainda em 2021. A rápida valorização, deve-se, em parte, à hiperinflação global, reflexo da grave crise sanitária que se arrasta há quase 2 anos. Proteger o patrimônio da perda do poder de compra, é, sem dúvidas, uma das maiores preocupações dos investidores.
Um fato atual que deixou eufórica a comunidade, foi a adoção do bitcoin como moeda de curso legal em El Salvador. Outra notícia empolgante e que ajuda a fortalecer a ideia de um ativo em plena ascensão, aconteceu quando Eric Adms — prefeito de Nova Iorque — informou à mídia que receberá seus primeiros salários na criptomoeda. São eventos que reafirmam o propósito pela qual ele foi desenvolvido. Seu sucesso não é inerente apenas ao seu preço, mas o impacto positivo que essa tecnologia está empenhando no futuro da comunicação global, com novas ferramentas descentralizadas sendo desenvolvidas continuamente. Isso só foi possível graças a um esforço sem precedentes da comunidade de criptográfos, cientistas da computação, cypherpunks, libertários e acima de tudo, os “early adopters” – primeiras pessoas a acreditarem no potencial de uma moeda “invisível”, puramente digital, criada à luz da hecatombe financeira que deixou de joelhos dezenas de banqueiros enclausurados em seus bunkers à espera de socorro pecuniário.
Bitcoin é inevitável.